Crônica Obscura: Mens (in)sana

Ele era um ser de hábitos – todos ruins, como diria Garfield – mas ainda assim, muitas pessoas gostavam dele.
Vai entender!” – pensava.

Mais ainda, não apenas as genéricas pessoas, mas também Ela gostava Dele.
Não conseguindo entender isso, entretanto, por estar muito preocupado em ser o portador do “crânio mais rígido” do universo, fazia besteiras (com M maiúsculo) várias. Trocava palavras ásperas, ou se omitia quando devia agir.

Então, o inevitável aconteceu: Ele entendeu, mas a custa de ameaçar abalar os alicerces do gostar Dela.

Moral da história?
“Shit happens when you’re too busy being a jerk”

Ou, em versão brasileira Herbert Richers (naah):

“Quando você é um idiota, você pode acabar se f*d3nd*”

Corpo, saudade, solidão…

Sinto meu corpo reclamar.

O joelho, cuja dor é minha companheira há tanto tempo quanto consigo lembrar, mas agora também outros músculos, e também minhas costas. Será o Tempo avisando que breve cobrará seu tributo? Por vezes penso que desperdicei a juventude, que não vivi o que e o quanto poderia. Sinto que quando resolvo viver, já é tarde.

Sinto a saudade apertar.

Saudade de minha parceira, saudade de minha companheira. A falta das duas me dói. Elas estão cuidando de suas questões, assim como cuido das minhas. De uma, eu sabia (nós sabíamos) que a proximidade constante seria passageira, mas o que o intelecto sabe, não reduz o que o coração irá sentir. Da outra, nunca pensei que haveria proximidade, mas agora não consigo ficar bem sem.

Sinto a solidão aqui.

Sozinho, comigo mesmo. A mente divaga. Faço o que devo fazer, e um pouco do que quero fazer. Sinto sono mas não quero dormir.

Ou nem sinto sono, apenas cansaço.

Estou aqui, processando as últimas notícias, tentando entender. E sem ainda saber o que fazer.

***

Hamlet: Ato III – Cena I (Solilóquio de Hamlet)

“Ser ou não ser – eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias –
E combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono – dizem – extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem agüentaria os fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão, porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos? …”

Crônica Obscura: Tempus Fugit

Os Dois eram como a Noite e o Dia, trilhando caminhos similares de formas diferentes e sem encontrarem-se…

Mas um dia (se é que isso faz sentido pra ele) o Tempo, entediado, resolveu brincar e vendo os Dois, cogitou em usá-los em um experimento…

Reservou um dos seus Lugares Perdidos, e fez com que as trilhas Deles se cruzassem nele. O que este curso de colisão traria?

E os Dois viram-se, e separaram-se, e viveram suas vidas.
Mas o Tempo ainda tinha planos. E passaram-se dias, semanas, meses e anos…

E quis o Tempo que os caminhos dos Dois cruzassem novamente.

E então, em algum lugar do Tempo, as brumas se abriram e os Dois, dessa vez não apenas viram-se, mas encontraram-se…

Sed fugit interea fugit irreparabile tempus
(Geórgeas, de Virgílio)

Crônica Obscura (2)

Periferia da cidade, alta madrugada…

A menina, 13 anos, corre na direção de um grupo de rapazes que voltava do baile (funk).

Me ajudem!!! – grita.

Os rapazes a cercam, perguntando o que houve.

O cara tava querendo me agarrar!!! – a menina responde.

Um dos rapazes olha na direção em que ela veio e vê um homem saindo do mato, abotoando as calças.

Olha lá!!! É o cara!!! Vamo pegar o “f1lh4d4put4”!!! – grita, já correndo.

O grupo corre em direção do homem que, acuado pelo grupo, tenta fugir. Está mancando, o que torna a fuga impossível. Logo o grupo de jovens o alcança e lhe aplica uma surra.

O homem, de meia idade, é trazido, quase arrastado, até perto da menina.

Não foi ele.


O fato é verídico, apenas os diálogos foram por mim criados.

Duas coisas tenho a dizer:

  1. Como as aparências por vezes enganam, e provas circunstanciais podem levar um inocente à prisão, ou a uma surra como no “causo” acima, é o motivo pelo qual sempre defenderei os Direitos Humanos. Eles protegem os inocentes dos erros e injustiças, tão característicos de nós, Humanos.
  2. O que a menina de 13 anos estava fazendo na rua, sozinha, de madrugada?

Crônica Obscura (1)

O casal de idosos, ambos na faixa dos 70 anos, entrou no vagão do trem. Sentaram-se e depois de alguns momentos,um segurança aproximou-se e informou que aquele vagão era reservado para mulheres e que o senhor não poderia ficar.

Algumas mulheres manifestaram-se:

– Ele pode ficar, é um velhinho…

E um passageiro, que observava do outro vagão, próximo à passagem entre eles, sugeriu ao segurança:

– Tem duas moças sentadas aqui neste vagão. Porque você não pede a elas que troquem de lugar com o casal? Eles ficariam sentados juntos e as duas moças também, no vagão reservado.

Ao que o segurança retrucou:

– Não, ele (o septuagenário) é que tem que sair.


Moral da História:

Os seguranças da Supervia (RJ) não estão lá para ajudar, mas para atrapalhar. Bom senso, para variar, não há.

Powered by ScribeFire.